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O Ofício Divino no Rito Romano Antigo: Guia Completo das Horas Canônicas

O Ofício Divino no Rito Romano Antigo: Guia Completo das Horas Canônicas
O Ofício Divino, também conhecido como Liturgia das Horas ou Breviário Romano, constituía, juntamente com a Santa Missa, o coração da Liturgia Diária Tradicional. Este artigo oferece um guia completo sobre as oito Horas Canônicas (Matinas, Laudes, Prima, Terça, Sexta, Nona, Vésperas e Completas), sua estrutura, conteúdo e significado espiritual. Descubra como esta forma de oração santificava o tempo e conectava os fiéis à tradição salmódica da Igreja. Parte de nossa série sobre a Liturgia Tradicional, este texto explora a riqueza da oração oficial da Igreja ao longo do dia.
O que é o Ofício Divino Tradicional
O Ofício Divino, também chamado de Liturgia das Horas ou Breviário Romano, é a oração oficial da Igreja distribuída ao longo das horas do dia e da noite. Se a Santa Missa era o ápice da oração litúrgica, o Ofício Divino era sua extensão ao longo do dia, santificando as diferentes horas com a oração oficial da Igreja.
Como explica o portal Salvem a Liturgia, "o Ofício Divino é a oração pública e oficial da Igreja, distinta das devoções privadas. É a oração que a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, dirige a Deus em nome de todos os homens e para sua santificação."
O termo "ofício" deriva do latim "officium", que significa "dever" ou "serviço". O Ofício Divino era, portanto, o "serviço divino" que os clérigos e religiosos eram obrigados a recitar diariamente, e que muitos leigos também acompanhavam por devoção.
Origens e Desenvolvimento
As raízes do Ofício Divino remontam à prática judaica da oração em momentos determinados do dia. Como detalhado em nosso artigo sobre a história da liturgia católica tradicional, "a prática judaica da prece compreendia três momentos de oração durante o dia: ao cair da tarde, ao amanhecer e ao meio-dia".
Os primeiros cristãos continuaram esta prática, expandindo-a gradualmente. Os Atos dos Apóstolos mencionam Pedro e João subindo ao Templo "à hora da oração, a nona" (Atos 3, 1), e Pedro orando "por volta da hora sexta" (Atos 10, 9).
Ao longo dos primeiros séculos, desenvolveu-se nas comunidades monásticas um ciclo mais elaborado de oração, que distribuía os 150 Salmos ao longo da semana. São Bento de Núrsia (480-547) organizou em sua Regra um ciclo de oração que estabelecia oito momentos diários de oração: Matinas (durante a noite), Laudes (ao amanhecer), Prima, Terça, Sexta, Nona (correspondendo aproximadamente às 6h, 9h, 12h e 15h), Vésperas (ao entardecer) e Completas (antes de dormir).
Este ciclo monástico influenciou profundamente o desenvolvimento do Ofício Divino na Igreja Ocidental. No século XIII, os franciscanos adotaram e difundiram o Breviário da Cúria Romana, uma versão mais compacta do Ofício, adequada para clérigos itinerantes. Este Breviário, com algumas modificações, tornou-se o modelo para o Breviário Romano que seria codificado após o Concílio de Trento.
A Codificação Tridentina
Em 1568, o Papa São Pio V promulgou o Breviarium Romanum através da bula Quod a nobis, estabelecendo a forma do Ofício Divino que permaneceria substancialmente inalterada até o início do século XX.
Como no caso do Missal Romano Tridentino, esta codificação não foi uma criação nova, mas uma restauração cuidadosa da tradição romana, eliminando adições duvidosas e garantindo a pureza dos textos litúrgicos.
O Breviário Romano Tridentino manteve a estrutura tradicional das oito Horas Canônicas e a distribuição dos 150 Salmos ao longo da semana, embora com algumas simplificações em relação ao Ofício monástico.
Você sabia?
O termo "breviário" (do latim "breviarium", que significa "resumo" ou "compêndio") surgiu na Idade Média para designar o livro que continha de forma abreviada todos os textos necessários para a recitação do Ofício Divino, anteriormente distribuídos em vários volumes (saltério, lecionário, antifonário, etc.).
As Oito Horas Canônicas
O Ofício Divino tradicional era composto por oito Horas Canônicas, distribuídas ao longo do dia e da noite. Cada uma destas Horas tinha sua estrutura própria e seu significado espiritual.
Matinas (Durante a Noite)
Matinas, também chamada de Ofício Noturno ou Vigílias, era a mais longa das Horas Canônicas, tradicionalmente recitada durante a noite. Seu nome deriva do latim "matutinum", relacionado à manhã, pois originalmente era recitada nas primeiras horas da madrugada.
Estrutura de Matinas:
- Introdução: Pater Noster, Ave Maria, Credo (em silêncio), versículos introdutórios, Invitatorium (convite à oração com o Salmo 94), hino.
- Noturnos: Nos domingos e festas, Matinas tinha três noturnos, cada um com três salmos (ou grupos de salmos) seguidos de suas antífonas, um versículo, o Pai Nosso, uma absolvição, três lições (leituras) e três responsórios. Nos dias feriais, havia apenas um noturno com doze salmos.
- Te Deum: Nos domingos (exceto na Quaresma) e nas festas, o último responsório era substituído pelo hino Te Deum laudamus.
Matinas tinha um caráter de vigília e preparação, recordando a exortação de Cristo a vigiar e orar (Mateus 26, 41). As lições, tiradas da Sagrada Escritura, dos Padres da Igreja e das vidas dos santos, ofereciam um alimento espiritual substancial.
Laudes (Ao Amanhecer)
Laudes, recitada ao amanhecer, era a Hora do louvor matutino, saudando o novo dia como símbolo da Ressurreição de Cristo. Seu nome deriva do latim "laus" (louvor), pois seus salmos são predominantemente de louvor.
Estrutura de Laudes:
- Introdução: Deus in adjutorium (Deus, vinde em meu auxílio), Gloria Patri.
- Cinco salmos: O primeiro era sempre um salmo de louvor, seguido pelo Cântico de Moisés (Êxodo 15) às quintas-feiras, pelo Cântico de Habacuc às sextas-feiras, e pelo Cântico dos Três Jovens (Daniel 3) aos sábados. Os dois últimos salmos eram sempre o 148, 149 e 150, recitados como um grupo sob uma única antífona.
- Capitulum: Uma breve leitura da Sagrada Escritura.
- Hino, versículo e resposta.
- Cântico de Zacarias (Benedictus): Lucas 1, 68-79, com sua antífona.
- Preces: Orações de intercessão (em certos dias).
- Oração do dia, comemoração de outros ofícios (quando necessário).
- Conclusão: Benedicamus Domino (Bendigamos ao Senhor), Fidelium animae (Que as almas dos fiéis).
Laudes celebrava a luz do novo dia como símbolo da luz de Cristo, o "Sol da Justiça" (Malaquias 4, 2). O Cântico de Zacarias, com sua referência ao "Sol nascente que vem nos visitar" (Lucas 1, 78), era particularmente apropriado para esta Hora.
Prima (Primeira Hora - 6h)
Prima, recitada aproximadamente às 6h da manhã, era a primeira das "Horas Menores". Seu nome deriva do latim "prima hora" (primeira hora), segundo o sistema romano de contagem das horas do dia, que começava ao nascer do sol.
Estrutura de Prima:
- Introdução: Deus in adjutorium, Gloria Patri, hino.
- Três salmos: Nos domingos, o Salmo 117 dividido em duas partes e a primeira parte do Salmo 118; nos dias da semana, três seções do Salmo 118 ou outros salmos, conforme o dia.
- Capitulum, responsório breve, versículos.
- Preces: Em certos dias, incluindo a Confissão (Confiteor) e orações de intercessão.
- Oração, leitura do Martirológio (em coro), bênção, leitura breve, versículo final.
Prima tinha um caráter de consagração do dia que começava, oferecendo a Deus as primícias do trabalho diário. A leitura do Martirológio, com a comemoração dos santos do dia seguinte, conectava a comunidade orante com a Igreja triunfante no céu.
Terça (Terceira Hora - 9h)
Terça, recitada aproximadamente às 9h da manhã, correspondia à "terceira hora" do sistema romano. Esta era tradicionalmente a hora em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos no dia de Pentecostes (Atos 2, 15).
Estrutura de Terça:
- Introdução: Deus in adjutorium, Gloria Patri, hino.
- Três salmos: Três seções do Salmo 118 ou outros salmos, conforme o dia.
- Capitulum, responsório breve, versículo.
- Oração do dia, conclusão.
O hino de Terça, "Nunc Sancte nobis Spiritus", invocava o Espírito Santo, recordando sua descida sobre os apóstolos nesta hora.
Sexta (Sexta Hora - 12h)
Sexta, recitada ao meio-dia, correspondia à "sexta hora" do sistema romano. Esta era tradicionalmente a hora em que Cristo foi crucificado (Marcos 15, 33).
Estrutura de Sexta:
- Introdução: Deus in adjutorium, Gloria Patri, hino.
- Três salmos: Três seções do Salmo 118 ou outros salmos, conforme o dia.
- Capitulum, responsório breve, versículo.
- Oração do dia, conclusão.
O hino de Sexta, "Rector potens, verax Deus", recordava o sol a pino e pedia a Deus que extinguisse as chamas da discórdia e o ardor das paixões.
Nona (Nona Hora - 15h)
Nona, recitada aproximadamente às 15h, correspondia à "nona hora" do sistema romano. Esta era tradicionalmente a hora da morte de Cristo na cruz (Marcos 15, 34-37).
Estrutura de Nona:
- Introdução: Deus in adjutorium, Gloria Patri, hino.
- Três salmos: Três seções do Salmo 118 ou outros salmos, conforme o dia.
- Capitulum, responsório breve, versículo.
- Oração do dia, conclusão.
O hino de Nona, "Rerum Deus tenax vigor", recordava o declínio do dia e pedia a Deus a graça de uma morte santa, seguida da luz eterna.
Vésperas (Ao Entardecer)
Vésperas, recitada ao entardecer, era a Hora do louvor vespertino, agradecendo a Deus pelas graças do dia que terminava. Seu nome deriva do latim "vesper" (tarde, entardecer).
Estrutura de Vésperas:
- Introdução: Deus in adjutorium, Gloria Patri.
- Cinco salmos: Variáveis conforme o dia, cada um com sua antífona.
- Capitulum, hino, versículo e resposta.
- Cântico de Maria (Magnificat): Lucas 1, 46-55, com sua antífona.
- Preces: Orações de intercessão (em certos dias).
- Oração do dia, comemoração de outros ofícios (quando necessário).
- Conclusão: Benedicamus Domino, Fidelium animae.
Vésperas era uma das Horas mais solenes do Ofício, frequentemente celebrada com maior solenidade, especialmente aos domingos e festas. O Cântico de Maria (Magnificat) era o ponto culminante desta Hora, expressando o louvor e a gratidão da Igreja unidos aos de Nossa Senhora.
Completas (Antes de Dormir)
Completas, recitada antes de dormir, era a última Hora do dia, preparando para o repouso noturno. Seu nome deriva do latim "completorium", indicando a conclusão do dia.
Estrutura de Completas:
- Introdução: Jube, domne, benedicere (Dignai-vos, senhor, abençoar), leitura breve, Confiteor, versículos, Deus in adjutorium, Gloria Patri.
- Três salmos: Geralmente os Salmos 4, 30 (primeiros versículos) e 90, recitados sob uma única antífona.
- Hino "Te lucis ante terminum", capitulum, responsório breve, versículo.
- Cântico de Simeão (Nunc dimittis): Lucas 2, 29-32, com sua antífona.
- Preces: Kyrie eleison, Pater noster, Credo (em silêncio), versículos.
- Oração, bênção.
- Antífona Mariana: Uma das quatro antífonas de Nossa Senhora, conforme o tempo litúrgico (Alma Redemptoris Mater, Ave Regina caelorum, Regina caeli, Salve Regina).
Completas tinha um caráter de preparação para o sono, visto como uma imagem da morte, e para o julgamento divino. O Cântico de Simeão, com sua referência a "deixar partir em paz o vosso servo" (Lucas 2, 29), era particularmente apropriado para esta Hora.
Recurso Recomendado
Para compreender melhor como os fiéis participavam do Ofício Divino, consulte nosso guia prático sobre acompanhamento da Liturgia Tradicional.
A Estrutura Geral do Ofício Divino
Além da estrutura específica de cada Hora Canônica, o Ofício Divino tradicional seguia certos princípios gerais de organização:
O Ciclo Semanal dos Salmos
Os 150 Salmos do Saltério eram distribuídos ao longo da semana, de modo que todos fossem recitados em uma semana normal. Esta distribuição seguia um padrão tradicional:
- Domingo: Matinas (9 salmos), Laudes (5 salmos/cânticos), Prima (3 salmos), Terça, Sexta e Nona (3 salmos cada), Vésperas (5 salmos), Completas (3 salmos).
- Segunda a Sábado: Distribuição similar, com Matinas tendo 12 salmos nos dias feriais.
Esta recitação integral do Saltério era uma característica fundamental do Ofício Divino tradicional, conectando os fiéis à prática de oração de Israel e da Igreja primitiva.
O Ciclo Anual: Próprio do Tempo e Próprio dos Santos
Como o Missal Romano, o Breviário seguia o Calendário Litúrgico com seu Próprio do Tempo (Proprium de Tempore) e Próprio dos Santos (Proprium Sanctorum):
- Próprio do Tempo: Textos específicos (antífonas, hinos, lições, etc.) para os diferentes tempos litúrgicos: Advento, Natal, Epifania, Septuagésima, Quaresma, Tempo Pascal e Tempo depois de Pentecostes.
- Próprio dos Santos: Textos específicos para as festas dos santos, organizadas de acordo com o calendário.
Em caso de coincidência entre uma festa e um domingo ou dia privilegiado do Próprio do Tempo, aplicavam-se regras precisas de precedência, estabelecidas nas rubricas do Breviário.
Comum dos Santos
Como no Missal, o Breviário continha um Comum dos Santos (Commune Sanctorum), fornecendo textos genéricos para diferentes categorias de santos (apóstolos, mártires, confessores, virgens, etc.), utilizados quando um santo não possuía textos próprios.
Ofício de Nossa Senhora aos Sábados
Aos sábados não impedidos por uma festa ou por certos tempos litúrgicos, recitava-se o Ofício de Nossa Senhora, uma forma especial do Ofício com textos próprios em honra da Santíssima Virgem Maria.
Ofício dos Defuntos
O Ofício dos Defuntos, com suas Vésperas, Matinas (com três noturnos) e Laudes, era recitado no dia 2 de novembro (Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos) e em outras ocasiões relacionadas aos falecidos.
A Reforma de São Pio X
Em 1911, o Papa São Pio X realizou uma reforma do Breviário Romano através da constituição apostólica Divino Afflatu. Esta reforma, a mais significativa desde a codificação tridentina, visava resolver alguns problemas que haviam surgido ao longo dos séculos:
Problemas Identificados
- A multiplicação de festas de santos havia levado a uma recitação muito parcial do Saltério, com os mesmos salmos sendo repetidos frequentemente.
- O Ofício Dominical e o Próprio do Tempo eram frequentemente substituídos por festas de santos.
- O Ofício havia se tornado muito longo e complexo para o clero com responsabilidades pastorais.
Principais Mudanças
- Nova distribuição dos Salmos: Os 150 Salmos foram redistribuídos de modo a garantir maior variedade e a recitação integral do Saltério em uma semana normal.
- Restauração do Ofício Dominical: O domingo recuperou sua precedência sobre a maioria das festas de santos.
- Simplificação da estrutura: O número de antífonas e responsórios a serem memorizados foi reduzido.
- Redução do Ofício: Matinas foi reduzida a nove salmos em todos os dias (anteriormente, eram doze nos dias feriais).
Esta reforma, embora significativa, manteve intacta a estrutura essencial do Ofício Divino tradicional, com suas oito Horas Canônicas e seu caráter de oração pública da Igreja.
Outras Reformas até 1960
Após a reforma de São Pio X, houve algumas outras modificações menores no Breviário Romano:
- Em 1945, o Papa Pio XII introduziu uma nova tradução do Saltério, conhecida como "Saltério Pianum" ou "Saltério de Bea", que substituiu a antiga Vulgata nos livros litúrgicos.
- Em 1955, o mesmo Papa simplificou as rubricas do Breviário, reduzindo o número de festas duplas e semiduplas.
Estas reformas, no entanto, foram realizadas dentro do espírito da tradição litúrgica, mantendo intacta a estrutura essencial do Ofício Divino tradicional.
A Teologia do Ofício Divino
O Ofício Divino tradicional não era apenas uma coleção de orações, mas a expressão de uma profunda teologia, enraizada na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja.
Teologia da Santificação do Tempo
Através do ciclo diário das Horas Canônicas, o Ofício Divino expressava a santificação de todo o tempo: as horas do dia, os dias da semana, as estações do ano. Cada momento era consagrado a Deus através da oração oficial da Igreja.
Esta santificação do tempo estava enraizada na compreensão cristã de que Cristo, o Senhor do tempo e da eternidade, entrou na história humana para redimi-la. Como afirma São Paulo, "quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho" (Gálatas 4, 4).
Teologia da Oração Contínua
O Ofício Divino era uma resposta à exortação de Cristo a "orar sempre, sem desfalecer" (Lucas 18, 1) e à recomendação de São Paulo a "orar sem cessar" (1 Tessalonicenses 5, 17).
Através da distribuição das Horas Canônicas ao longo do dia, a Igreja garantia que a oração fosse contínua, com alguma parte da Igreja sempre em oração, formando uma "perpétua coroa de louvor" oferecida a Deus.
Teologia da Oração Eclesial
O Ofício Divino não era uma oração privada, mas a oração pública e oficial da Igreja, oferecida em nome de toda a humanidade. Mesmo quando recitado privadamente por um clérigo ou religioso, o Ofício mantinha seu caráter eclesial.
Esta dimensão eclesial era expressa no uso frequente do plural nas orações ("Oremos", "Bendigamos", etc.) e na compreensão de que o orante agia como representante da Igreja.
Teologia da Comunhão dos Santos
O Ofício Divino expressava a fé na comunhão dos santos através de numerosas referências aos santos nas antífonas, hinos e orações. A recitação do Ofício unia a Igreja militante (na terra) à Igreja triunfante (no céu) em um único coro de louvor.
Esta comunhão era particularmente evidente na recitação do Martirológio em Prima, com a comemoração dos santos do dia seguinte, e nas antífonas marianas ao final de Completas, que invocavam a intercessão de Nossa Senhora.
O Ofício Divino na Vida dos Fiéis
Embora o Ofício Divino fosse primariamente uma obrigação dos clérigos e religiosos, muitos leigos também participavam desta forma de oração, especialmente das Horas mais acessíveis como Vésperas e Completas.
Participação dos Leigos
A participação dos leigos no Ofício Divino podia assumir diversas formas:
- Assistência às Horas celebradas publicamente: Em muitas catedrais, igrejas colegiadas e mosteiros, algumas Horas (especialmente Vésperas aos domingos) eram celebradas com solenidade e abertas à participação dos fiéis.
- Recitação privada: Alguns leigos mais instruídos possuíam breviários ou livros de horas e recitavam parte do Ofício em casa.
- Ofício Parvo de Nossa Senhora: Uma forma simplificada do Ofício, dedicada à Santíssima Virgem, era popular entre os leigos desde a Idade Média.
- Adaptações vernáculas: Existiam adaptações do Ofício em línguas vernáculas, como o "Pequeno Ofício de Nossa Senhora" em português, que permitiam aos leigos participar desta forma de oração mesmo sem conhecimento do latim.
Como explica o portal Irmandade Nossa Senhora do Carmo, "a participação no Ofício Divino permitia aos fiéis leigos unir-se mais intimamente à oração da Igreja e santificar as diferentes horas do dia."
Benefícios Espirituais
A participação no Ofício Divino oferecia numerosos benefícios espirituais aos fiéis:
- Familiaridade com a Sagrada Escritura: O Ofício, composto principalmente de salmos e leituras bíblicas, proporcionava um contato profundo com a Palavra de Deus.
- Ritmo de oração: A recitação regular das Horas estabelecia um ritmo saudável de oração ao longo do dia.
- Comunhão com a Igreja universal: Recitar o Ofício conectava o fiel à oração da Igreja em todo o mundo.
- Santificação do tempo: As diferentes Horas consagravam a Deus os diversos momentos do dia.
- Formação doutrinal: Os hinos, antífonas e leituras do Ofício continham uma rica catequese sobre os mistérios da fé.
Para mais informações sobre como os fiéis participavam do Ofício Divino, consulte nosso artigo sobre como acompanhar a Liturgia Tradicional.
Conclusão: O Valor Perene do Ofício Divino Tradicional
O Ofício Divino tradicional, com sua estrutura de oito Horas Canônicas distribuídas ao longo do dia, sua recitação integral do Saltério e sua rica teologia, constituía, juntamente com o Santo Sacrifício da Missa, o coração da Liturgia Diária Tradicional da Igreja Católica.
Esta forma de oração, desenvolvida organicamente ao longo de quase dois milênios e codificada após o Concílio de Trento, oferecia um caminho seguro de santificação para clérigos, religiosos e leigos, conectando-os à Tradição viva da Igreja e à comunhão dos santos.
Redescobrir a riqueza do Ofício Divino tradicional é redescobrir uma parte essencial do patrimônio espiritual da Igreja, um tesouro de oração que formou gerações de santos e que continua a oferecer um alimento espiritual substancial para aqueles que buscam "orar sem cessar" (1 Tessalonicenses 5, 17).
Vivenciando o Ofício Divino
Após compreender a estrutura do Ofício Divino tradicional, saiba mais sobre:
Série: Liturgia Diária Tradicional
Este artigo faz parte de nossa série completa sobre a Liturgia Católica Tradicional.
Voltar ao Artigo PrincipalSérie Completa: Liturgia Diária Tradicional
Última atualização: Maio de 2025
Referências:
- Salvem a Liturgia - O Ofício Divino no Rito Romano
- Irmandade Nossa Senhora do Carmo - Liturgia Diária
- Divinum Officium - Breviário Romano Tradicional
- Batiffol, Pierre - History of the Roman Breviary
- Breviarium Romanum (1568)
- Divino Afflatu - Constituição Apostólica do Papa São Pio X (1911)